
Crítica: Sem grandes novidades, "Jurassic World — Recomeço" recupera senso de aventura, mas engana no nome
4 min.
02/07/2025
Guilherme Salomão
A trajetória de Jurassic Park nos cinemas é, no mínimo, curiosa. Desde que o filme dirigido por Steven Spielberg fez sua estreia em 1993, foram incontáveis as tentativas de replicar o sucesso do longa baseado na obra do escritor Michael Crichton. Dito isso, talvez não seja nenhuma notória novidade que grande parte delas tenha sido sem sucesso em termos de conteúdo. Porém, a franquia é um osso que Frank Marshall, produtor dos filmes desde Jurassic World (2015), parece não querer parar de roer.
Principalmente pelo fato de que, não importa a qualidade dos filmes, a insistência em sempre recontar a mesma história e tirar leite de pedra de forma consideravelmente preguiçosa, a partir de uma proposta que já não é mais novidade, sempre traz certo retorno financeiro – como foi o caso de Jurassic World: Domínio (2022), o último filme da franquia que, apesar das críticas em sua maioria negativas, atingiu a impressionante marca de 1 bilhão de dólares arrecadados mundialmente.
É diante desse contexto que, em 2025, chega aos cinemas Jurassic World: Recomeço, dirigido por Gareth Edwards (Godzilla, Rogue One: Uma História Star Wars). Um longa que, após as duas trilogias anteriores, chega com a promessa de apontar novos ares para a saga iniciada por Spielberg ainda nos anos 90, como o seu próprio título indica.
Logo em seus primeiros momentos, Recomeço é um filme repleto de diálogos expositivos que já deixam claros os clichês que circundam os novos personagens apresentados e toda a trama que irá se desenvolver dali em diante. Sem dinossauros em cena, Jurassic World: Recomeço é um filme, no geral, bobo, moldado à base de uma série de estereótipos: figuras de caráter duvidoso que enxergam uma oportunidade de redenção; o cientista consciente; o vilão empresário que visa o lucro acima de tudo; um alívio cômico; e, obviamente, os inevitáveis percalços que todos enfrentarão a partir do momento em que dão de cara com as criaturas pré-históricas, foco da franquia.
A produção, diante desse cenário, parece possuir certa consciência disso e até arrisca rir de si mesma. Há momentos em que os protagonistas, após alguma conversa mais "séria" em uma pausa dramática, ironizam suas próprias histórias ou alguma piada logo toma conta da projeção em seguida – como no diálogo entre a mercenária de Scarlett Johansson e Mahershala Ali, em que ela afirma que ambos são "patéticos" após conversarem sobre suas frustrações e arrependimentos passados.
Recomeço parece saber que não passa de uma produção repleta de dramas vazios, mais interessada, a partir disso, em ser uma aventura simples e direta. Enquanto seus antecessores insistiam em explicações científicas e voltas e reviravoltas incessantes e cansativas, essa realização de 2025 se contenta em ser apenas a história de uma expedição a uma ilha com répteis gigantes à solta, conduzindo ao inevitável resultado final disso.
É, portanto, quando os dinossauros aparecem que Jurassic World: Recomeço recupera um senso de aventura e suspense clássico da saga que funciona. O prólogo em que um experimento dá errado; a longa sequência de perseguição em um barco; a equipe adentrando a selva e descobrindo suas mazelas; o templo escondido que os personagens precisam invadir para recuperar um item importante para a trama. Gareth Edwards, enquanto diretor, é um bom compilador de referências. Assim como fizera em sua ficção científica A Resistência, que abraçava conceitos de Star Wars a Blade Runner, Jurassic World: Recomeço é um filme de longas passagens que evocam de Tubarão e Alien a King Kong e Indiana Jones.
Assim, se as cenas trazem de volta tal espírito mais direto a partir de seus climas e ambientações, elas também acertam pelo trato visual do cineasta. Visualmente, o novo Jurassic World é um longa-metragem bem acabado na maior parte de sua projeção. Nada é exatamente um grande espetáculo, mas o senso de escala de Edwards é mais aguçado e faz diferença, principalmente quando sua decupagem abre os planos em belas tomadas gerais que dão plena noção da dimensão das criaturas geneticamente alteradas em conflito com os humanos.
A grande questão de Recomeço é que, para além do título, nada é, de fato, um recomeço. O longa não foge das obviedades que permeiam as produções de Jurassic Park nas últimas décadas. Para além de repetir os "momentos de nostalgia", como aqueles em que a icônica música tema de John Williams embala a chegada dos personagens à ilha ou a aparição de algum dinossauro, as soluções para os conflitos e situações propostas acabam sempre retornando ao que foi feito por Steven Spielberg em 1993.
A sensação, ao final, é a de assistir ao mesmo filme mais uma vez, apesar de seus bons momentos. É como se não houvesse para onde fugir, já que, no fundo, o filme de 1993 vem sendo refeito incessantemente, mas já sem o mesmo brilho ou senso de novidade que marcou o cinema mais de três décadas atrás.