Crítica — Ainda que sem o mesmo brilho, “Bailarina” compreende “John Wick” como legado e segue com elegância na ação

Crítica — Ainda que sem o mesmo brilho, “Bailarina” compreende “John Wick” como legado e segue com elegância na ação

4 min.

04/06/2025

Guilherme Salomão

Comandada pelo cineasta norte-americano Chad Stahelski, a franquia John Wick se tornou uma das grandes “queridinhas” dos fãs de filmes de ação e da crítica nos últimos anos. Diante disso, é natural que a saga do assassino profissional interpretado por Keanu Reeves desde 2014, quando John Wick: De Volta ao Jogo fez sua estreia, culminasse em spin-offs e produtos derivados que explorassem novas possibilidades de expansão para esse universo.

 Assim, após a série prelúdio The Continental, lançada em 2023, chega aos cinemas Bailarina, um spin-off dirigido por Len Wiseman (Duro de Matar 4.0, 2007) estrelado por Ana de Armas que conta a história de Eve, uma jovem que, após ser treinada nas tradições da organização Ruska Roma, sai em busca de vingança contra uma organização rival que assassinou sua família.

Bailarina não chega a ser um filme que subverte a lógica de John Wick. Em termos de encenação e visuais, permanece distante disso. Porém, é um filme que, de toda forma, segue por um caminho narrativo distinto no que tange à estruturação do desenvolvimento de suas figuras centrais. Em John Wick, existia um lado de segredo e mistério. A história partia de um personagem de passado misterioso pré-determinado. Uma máquina de matar implacável em uma história de vingança que dispensava origens lineares e didáticas , já que a mitologia da saga era apresentada ao espectador à medida que embarcávamos com o protagonista em sua odisseia.

Bailarina, por sua vez, já se encaixa mais no padrão “filme de origem” por essência. A mitologia já está lá e serve para moldar a personagem, que cresce junto dela em uma estrutura mais linear e tradicional de uma “Jornada do Herói”. A trajetória da Eve de Ana de Armas segue nos moldes de um “Batman Begins. Essa ideia, por vezes, é trabalhada de forma mais engessada pelo roteiro. Os acontecimentos se dividem em blocos demarcados até demais que passam pela perda da infância, treinamento, provação e jornada de vingança independente.

Essa falta de fluidez, de toda forma, não prejudica tanto a experiência, pois Bailarina, em seus momentos mais interessantes, é um filme que mantém vivo o brilho de John Wick. Estamos aqui mais pela ação bem feita — e isso o filme, enquanto produto desse universo, não se esquece de entregar.

É o cuidado não só com cores ou enquadramentos mais rigorosos em termos de luz e sombras e manejo dos elementos cênicos, mas também com toda aquela ação criativa e bem coreografada, que se destaca. Por mais que o maneirismo de Chad Stahelski nos enquadramentos e movimentos de câmera ainda seja superior nos quatro filmes do personagem de Keanu Reeves, Bailarina ainda possui aquele estilo que dispensa cortes rápidos na montagem e planos curtos com câmera tremida em prol de planos longos, com a câmera se movimentando em torno da ação. Há clareza no que acontece, e o filme explora bem a geografia e particularidade de cada ambiente, sabendo se divertir com os elementos cênicos mais peculiares nos embates entre os personagens.

No todo, John Wick, o personagem e a saga, aqui, parecem ser entendidos como um legado. Até as participações de Wick conversam bem com essa ideia. Há um momento interessante em que a figura interpretada por Keanu Reeves - sempre mencionada de forma "lendária" - serve como inspiração para a Eve de Ana de Armas: passadas as suas origens, o objetivo final de sua jornada é se tornar essa máquina implacável também em busca de vingança por aqueles que arrancaram um pedaço importante de sua vida - e o assassino de Reeves, posteriormente, compreende sua história justamente por saber como é estar naquele lugar.

O objetivo final de Bailarina enquanto filme, portanto, não foge muito daquele dos filmes originais. E é nessa clássica história de vingança que se abre espaço para o brilhantismo da ação . A produção pode não ser perfeita, mas enxerga os filmes de Stahelski como símbolo e inspiração em forma e em conteúdo. O longa ainda deixa pronto um terreno para seguir em frente e dar continuidade à história de Ana de Armas, em mais uma prova de como a saga agora possui possibilidades a serem explorados após o sucesso desse "modelo" proposto pelos quatro filmes principais.

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